terça-feira, 24 de janeiro de 2012

A corte de Inanna e Dumuzi

O próximo texto do Ciclo de Inanna é a corte feita por Dumuzi a Inana.





O irmão falou para sua irmã mais jovem,
Utu, o deus Sol, falou a Inana, dizendo:
- Jovem senhora, o linho em flor é lindo,
Os grãos estão reluzentes nos campos.
Eu vou pegar alguns para você,
Eu vou trazer um pouco de linho para você.
Uma peça de linho é sempre bom de se Ter.
- Irmão, se você me trouxer o linho, quem irá fiá-lo para mim?
- Irmã, eu trá-lo-ei já fiado.
- Irmão, se você me trouxer o linho fiado, quem irá trançá-lo para mim?
- Irmã, eu trá-lo-ei fiado..
- Irmão, se você me trouxer o linho fiado, quem irá trançá-lo para mim?
- Irmã, eu trá-lo-ei trançado.
- Irmão, se você me trouxer o linho trançado, quem irá tecê-lo para mim?
- Irmã, eu trá-lo-ei tecido.
- Irmão, se você me trouxer o linho tecido, quem irá tingi-lo para mim?
- Irmã, eu trá-lo-ei tingido.
- Irmão, se você me trouxer meu lençol de noiva,
Quem irá para o leito comigo? Utu, quem irá para o leito comigo?
- Seu noivo irá para o leito com você.
Ele, que foi concebido no Casamento Sagrado. Dumuzi, o pastor!
Ele irá para o leito com você!
 Inana falou:
- Não, irmão! O homem do meu coração é aquele que trabalha os campos!
O agricultor! Ele é o homem do meu coração! Ele junta cereais em grandes pilhas,
Ele traz grãos regularmente para meus galpões.
  Utu falou:
- Irmã, case-se com o pastor! Por que não o queres?
O creme que ele faz é bom, o leite dele é bom.
O que ele toca, ele faz brilhar. Inana, case-se com Dumuzi!
Você, que se adorna com o colar de ágata da fertilidade,
Por que não o queres? Dumuzi irá compartilhar seu rico
creme com você. Você foi concebida para ser a protetora
do rei, por que não o queres?
  Inana respondeu:
- O pastor! Eu não me casarei com o pastor! Suas roupas são rústicas, a lã dele é dura. Eu vou me casar com o agricultor.
O agricultor cultiva o linho para minhas roupas. O agricultor planta cevada para minha mesa. Eu me casarei com o agricultor!
  Então Dumuzi apareceu e disse:
- Por que toda esta conversa sobre o agricultor?
Se ele der a você farinha, eu lhe darei lã,
Se ele der a você cerveja, eu lhe darei leite doce,
Se ele der a você pão, eu lhe darei o mais doce dos queijos.
Eu darei ao agricultor o creme que me sobrar.
Eu darei ao agricultor o leite que me sobrar.
Por que você fala [só] sobre o agricultor?
O que ele tem que eu não tenho?
  Inana disse:
- Pastor, se não fosse a minha mãe, Ningal, eu o mandaria embora.
Sem meu pai, Nana, você não teria teto sob sua cabeça.
Sem meu irmão Utu...
  Dumuzi falou:
- Inana, não comece uma briga! Meu pai, Enki, é tão bom quanto seu pai.
Minha mãe, Sirtur, é tão boa quanto sua mãe.
Minha irmã Geshtinana é tão boa quanto você,
Eu sou tão bom quanto seu irmão Utu. Rainha do Palácio, vamos conversar!
Inana, vamos sentar e conversar: eu sou tão bom quanto Utu,
Enki é tão bom quanto Nana, Sirtur é tão boa quanto Ningal.
Rainha do Palácio, vamos conversar!
As palavras que eles falaram foram palavras de desejo.
Do momento em que brigaram, surgiu de amantes o desejo.
O pastor trouxe creme para o palácio real
Dumuzi trouxe leite para o palácio real
Ele esperou do outro lado dos portais. Ele chamou:
- Abra a porta, minha senhora. Abra a porta da casa!
 Inana correu para a mãe que havia lhe dado à luz. Ela perguntou:
- O que devo fazer:?
  Ningal aconselhou-a, dizendo:
- Minha filha, o jovem Dumuzi irá tratá-la como se fosse seu pai.
Ele vai cuidar de você como se fosse sua mãe.
Abra a porta, minha filha, Abra a casa [para ele]!
 A pedido de sua mãe,
Inana se banhou e se ungiu com óleo perfumado
Ela cobriu seu corpo com o vestido branco real
Ela aprontou seu dote
Ela arrumou as preciosas contas de lápis lazuli ao redor de seu pescoço
Ela pegou seu selo sagrado.
 Dumuzi esperou (a) com ansiedade.
Inana abriu a porta para ele
Dentro da casa, ela brilhou diante dele
Como a luz da lua.
 Dumuzi olhou para ela alegremente
Ele aproximou seu pescoço do dela
Ele a beijou.
  Inana falou:
- O que eu te digo, que o cantor teça em canção
O que te digo, que passe do ouvido para a boca
Que passe do jovem para o ancião
Minha vulva, minha cornucópia
A Nau dos Céus
Está cheia de expectativa como a lua nova
Minha terra que não foi arada está desocupada
  E quanto a mim, Inana,
Quem irá arar a minha vulva?
Quem irá arar meu campo alto?
Quem irá arar meu solo úmido?
  E quanto a mim, a donzela,
Quem irá arar a minha vulva?
Quem irá deixar o gado ficar lá?
Quem irá arar minha vulva?
  Dumuzi respondeu:
- Grande Senhora, o rei irá arar sua vulva, eu, Dumuzi, o rei, irei arar sua vulva.
 Inana:
- Então are a minha vulva, homem do meu coração! Are a minha vulva!
No colo do rei ergueu-se o cedro
Plantas cresceram ao seu lado
Cereais cresceram ao lado das plantas e do cedro
Jardins floresceram da forma mais exuberante.
 Inana cantou:
- Ele desabrochou, ele desabrochou,
Ele é como alface plantada junto à água
Ele é aquele que meu útero mais adora.
  Meu luxuriante jardim da planície
Minha cevada crescendo alta nos campos
Minha macieira que traz frutos em sua coroa,
Ele é como alface plantada junto à água.
  Meu doce amor, meu doce amor sempre me enternece
Meu senhor, meu doce amor dentre os deuses
Ele é aquele que meu útero mais ama.
A mão de meu amor é mel, seu pé é de mel
Ele sempre me enternece.
  Meu impetuoso amor que acaricia o meu umbigo
Ele é aquele a quem meu útero mais ama
Ele é como alface plantada junto à água.
  Dumuzi cantou:
- Ah, senhora, teu seio é o teu campo
Inana, teu seio é teu campo
Teu campo amplo derrama plantas
Teu campo amplo derrama cereais
As águas circulam altas para teu servo
Derrama-a para mim, Inana,
Eu beberei tudo o que me ofereceres!
 
Inana cantou:
- Faz teu leite doce e espesso, meu noivo.
Meu pastor, eu beberei teu leite fresco.
Touro selvage, Dumuzi, faz teu leite doce e espesso
E eu beberei teu leite fresco.
 
Que o leite de cabra corra nos meus rebanhos
Encha meus baldes com queijo doce
Senhor Dumuzi, eu beberei teu leite fresco.
 
Meu esposo, eu guardarei os meus rebanhos para ti.
Eu irei zelar pela tua casa da vida, o armazém.
O local do brilho e prazer que faz as delícias da Suméria
A casa que dá o hálito da vida às pessoas
A casa que dá o pão da vida às pessoas
Eu, a rainha do palácio, zelarei pela tua casa!
 
Dumuzi falou:
- Minha irmã, eu gostaria de ir contigo ao meu jardim
Inana, eu gostaria de ir contigo ao meu jardim
Eu gostaria de ir contigo ao meu pomar
Eu gostaria de ir contigo até a minha macieira
E lá eu gostaria de plantar a doce semente coberta de mel.
 
Inana falou:
- Ele me levou ao seu jardim
Meu irmão, Dumuzi, me levou para seu jardim
Eu passeei com ele entre as árvores viçosas
Eu fiquei ao seu lado entre as árvores caídas
Junto à macieira, eu me ajoelhei, como de costume
 
Meu irmão veio até mim entoando uma canção
Ele apareceu dentre as folhas de álamo
Ele veio até mim no calor do meio dia
Ante meu senhor Dumuzi
Eu derramei plantas do meu útero
Eu coloquei plantas diante dele
Eu derramei grãos diante dele
Eu derramei grãos do meu útero.
 
Inana cantou:
- Ontem à noite, quando eu, a rainha estava radiante
Ontem à noite, quando eu, a Rainha dos Céus, estava radiante,
Quando eu estava radiante e dançando
Cantando à chegada da noite...
 
Ele foi ao meu encontro, ele foi ao meu encontro!
Meu senhor Dumuzi foi ao meu encontro!
Ele pôs sua mão na minha
Ele colocou seu pescoço junto ao meu.
 
Meu alto sacerdote está pronto para os quadris sagrados
Meu senhor Dumuzi está pronto para os quadris sagrados
As plantas e ervas estão maduras nos campos
Ah, Dumuzi, teu viço faz as minhas delícias!
 
Ela chamou pelo leito, ela chamou pelo leito, ela chamou pelo leito!
Ela chamou pelo leito que alegra o coração
Ela chamou pelo leito que adoça os quadris
Ela chamou pelo leito que faz reis
Ela chamou pelo leito que faz rainhas
Ela chamou pelo leito:
- Que o leito que alegra o coração seja preparado!
Que o leito que adoça os quadris seja preparado
Que o leito que faz reis seja preparado
Que o leito que faz rainhas seja preparado!
Que o leito real seja preparado!
  Inana estendeu o lençol de noivado por sobre o leito
Ela chamou pelo rei:
- O leito está pronto!
Ela chamou por seu noivo:
- Meu noivo, o leito está esperando!
Ele pôz a sua mão na mão dela
Ele pôz a sua mão no coração de Inana
Doce é o adormecer de mãos dadas
Mais doce ainda é o adormecer de corações se tocando.
Ela se banhou para o touro selvagem
Ela se banhou para o pastor Dumuzi
Ela perfumou sua pele com óleo
Ela molhou seus lábios com âmbar de doce perfume
Ela pintou seus olhos com kohl]
Ele esculpiu os quadris dela com suas doces mãos
O pastor Dumuzi encheu o colo de Inana com creme e leite
Ele acariciou os pêlos ´púbicos dela
Ele aguou o útero de Inana.
Com as mãos, ele tocou na vulva plena
Ele alisou a nau escura dela com seu creme
Ele tocou a nau estreita de Inana, enchendo-a com seu leite
Ele acariciou Inana no leito.
Então ela acariciou o alto sacerdote no leito
Inana acariciou o fiel pastor Dumuzi
Ela acariciou os quadris dele, a força do pastoreio da terra.
Ela decretou um doce destino para ele.
Inana, a Primogênita da Lua, a Rainha do Céu e da Terra,
A jovem e heróica mulher, maior que sua mãe
Inana, a quem foram dadas as Sagradas Medidas do Céu e da Terra por Enki,
O deus da Sabedoria, das Águas Doces e da Mágica,
Inana, a Rainha dos Céus, decretou o destino de Dumuzi:
- Na batalha, eu te lidero
No combate, seguro tua armadura
Na assembléia, sou tua advogada,
Na campanha, sou tua inspiração
Tu, o pastor escolhido do templo sagrado
Tu, o rei, o fiel provedor de Uruk
Tu, a luz do grande templo de Anu
De todas as formas te acho capaz
Para caminhar de cabeça erguida nos corredores elevados
Para sentar sentar no trono de lápis lázuli
Para cobrir tua cabeça com a coroa sagrada
Para vestir roupas longas no teu corpo
Para colocar os trajes da realeza
Para carregar a clava e a espada
Para guiar em linha reta o arco e a flecha
Para colocar a funda no ombro
Para correr na estrada com o cetro sagrado em tua mão
E usar as sandálias sagradas nos teus pés
Para brincar no seio sagrado como berloque de lápis lazuli.
Tu, o melhor corredor, o melhor de todos, o pastor escolhido,
De todas as formas eu te acho capaz
Que teu coração viva longos dias
O que Anu decretou para ti, que não seja alterado.
O que Enlil te concedeu - que não seja mudado.
Tu és o favorito de Ningal. E eu, Inana, te quero muito
 
Ninshubur, a serva fiel do templo sagrado de Uruk,
Levou Dumuzi até os doces quadris de Inana, e falou:
- Minha senhora, aqui está a escolha de vosso coração,
O rei, vosso amado noivo.
Que ele passe longos dias na doçura de vossos sagrados quadris.
Concedei, pois também a ele um reinado favorável e glorioso
Concedei-lhe o bastão de julgamento dos pastores
Concedei-lhe a coroa duradoura com o diadema nobre e radiante.
  De onde o sol surgir até onde o sol se por
De Sul a Norte, dos Mares Superiores aos Mares Inferiores
Da terra da Árvore de Hulupu à terra dos cedros
Que o bastão de pastor de vosso noivo proteja toda a Suméria e Acádia.
  Como agricultor, que ele faça os campos férteis
Como pastor, que ele faça os rebanhos se multiplicarem
Sob seu reinado, que hajam os campos vais viçosos
Sob seu reino que haja abundância de grãos.
  Nos campos do Sul, que os peixes e os pássaros se multipliquem
Nos canaviais que os juncos novos e velhos cresçam alto
Nas estepes, que as árvores mashgur cresçam viçosas,
Nas florestas, que o veado e as cabras selvagens se multipliquem
Nos pomares, que haja leite e vinho.
  Nos jardins, que as alfaces e os agriões cresçam alto
No palácio, que haja longa vida.
Que haja água para as cheias do Tigre e Eufrates
Que as plantas cresçam alto nos seus bancos e encham os campos
Que a Senhora da Vegetação empilhe grãos in montes e montanhas.
  Oh, minha Rainha do Céu e da Terra, Rainha de Todo Universo
Que ele passe longos dias na doçura de vossos sagrados quadris!
O rei foi de cabeça erguida até os quadris sagrados
Ele foi de cabeça erguida até os quadris de Inana
Ele foi até a rainha de cabeça erguida
Ele abriu bem os braços para a alta sacerdotisa dos céus.
 Inana falou:
- O rei foi de cabeça erguida até os quadris sagrados
Ele foi de cabeça erguida até os quadris de Inana
Ele foi até a rainha de cabeça erguida
Ele abriu bem os braços para a alta sacerdotisa dos céus.
Inana falou:
- Meu amor, a delícia dos meus olhos, me encontrou. Juntos, fomos felizes.
Ele foi feliz comigo. Ele me trouxe para sua casa.
Ele me deitou no leito perfumado de mel
Meu doce amor deitou-se junto ao meu coração
E me cobriu de beijos
Meu adorado Dumuzi fez amor comigo cinqüenta vezes
Agora, meu doce amor está saciado
Agora ele diz:
"Dê-me a liberdade, minha irmã, deixe-me livre
Você será como uma filhinha para meu pai
Ouça, minha irmã, eu quero sair do palácio
Deixe-me livre"...
Inana falou:
- Meu amor que desabrochou, teu encanto foi doce
Meu amor que desabrochou no pomar das maçãs
Meu amor que me trouxe frutos no pomar das maçãs
Dumuzi-abzu, teu encanto foi doce.
Meu destemido, minha estátua sagrada
Minha estátua com diadema de lápis lázuli e espada
Como foi doce o teu encanto...

Nenhum comentário:

Postar um comentário