terça-feira, 24 de janeiro de 2012

A descida de Inanna

Parte do Ciclo de Inanna que influenciou praticamente todos os mitos sazonais de todo o Oriente e Europa no geral.




Das Grandes Alturas, ela abriu seus ouvidos para as Grandes Profundezas
Das Grandes Alturas, a deusa abriu seus ouvidos para as Grandes Profundezas
Das Grandes Alturas, Inana abriu seus ouvidos para as Grandes Profundezas
 
Minha Senhora abandonou o céu e a terra para descer ao Mundo Subterrâneo
Inana abandonou o céu e a terra para descer ao Mundo Subterrâneo
Ela abandonou sua posição de sagrada sacerdotisa para descer ao Mundo Subterrâneo
 
Em Uruk, ela abandonou seu templo para descer ao Mundo Subterrâneo
Em Babtibira, ela abandonou seu templo para descer ao Mundo Subterrâneo
Em Zabalan, ela abandonou seu templo para descer ao Mundo Subterrâneo
Em Adab, ela abandonou seu templo para descer ao Mundo Subterrâneo
Em Nippur, ela abandonou seu templo para descer ao Mundo Subterrâneo
Em Kish, ela abandonou seu templo para descer ao Mundo Subterrâneo
Em Akkad, ela abandonou seu templo para descer ao Mundo Subterrâneo
 
Ela reuniu as Sete Medidas Sagradas
Elas tomou as Medidas Sagrada em suas mãos
De posse dos me, ela começou a se preparar
 
Ela colocou a shugurra, a coroa das estepes em sua cabeça,
Ela ajeitou os escuros cachos de cabelo na testa
Ela colocou as pequenas contas de lápis lazuli ao redor de seu pescoço
Ela deixou a fileira dupla de contas tocar seus seios
E colocou as vestimentas reais sobre seu corpo.
Ela pintou seus olhos com pintura chamada "Que ele venha, que ele venha!"
Ela apertou junto ao peito o corpete chamado "Vem, homem, vem!"
Ela colocou a pulseira de ouro ao redor de seu pulso
E tomou em sua mão a linha e o bastão das medidas.
 
Inana partiu para o Mundo Subterrâneo
Ninshubur, sua fiel serva, foi junto com ela.
Inana falou a Ninshubur, dizendo:
- Ninshubur, meu constante apoio
Minha primeira-ministra que me dá sábios conselhos
Minha guerreira que luta ao lado meu
Estou descendo para o kur, o Mundo Subterrâneo.
Se eu não retornar,
Comece um lamento por mim junto às ruínas
Bata o tambor por mim nos locais de assembléia
Faça um círculo completo ao redor da casa dos deuses
Faça os sinais de luto ao redor dos olhos, da boca, de seus quadris,
Vista-se com apenas uma peça de roupa, tal qual um mendigo
Vá a Nippur, ao templo de Enlil.
Quando chegares no altar sagrado, brade:
"Oh, Pai Enlil, não deixai vossa filha
Ser posta para morrer no Mundo Subterrâneo.
Não deixai vossa prata de maior brilho
Ser coberta com o pó do Mundo Subterrâneo.
Não deixai vosso precioso lápis lazuli
Ser quebrada como pedra para o pedreiro [trabalhar]
Não deixai vossa perfumada caixa de madeira preciosa
Ser partida como madeira para o madeireiro
Não deixai a sagrada sacerdotisa dos céus
Ser posta para morrer no Mundo Subterrâneo.
 
Se Enlil não ajudar,
Vá até Ur, ao templo de Nana.
Chore ante pai Nana.
Se Nana não ajudar,
Vá até Eridu, ao templo de Enki.
Chore ante pai Enki
Pai Enki, o deus da Sabedoria, conhece o alimento da vida,
Ele conhece as águas da vida
Ele conhece os segredos.
Com certeza ele não vai me deixar morrer.
 
Inana continuou sua jornada para o Mundo Subterrâneo
Então [num ponto], ela parou e disse:
- Vá agora, Ninshubur
E não esqueça as palavras que te recomendei.
 
Quando Inana chegou junto aos portais exteriores de Mundo Subterrâneo
Ela bateu com força no primeiro portal
Ela bradou com voz forte:
- Abra a porta, porteiro!
Abra a porta, Neti!
Eu sozinha quero entrar!
 
Neti, o porteiro do Mundo Subterrâneo, perguntou:
- Quem sois vós?
Inana respondeu:
- Sou Inana, Rainha dos Céus,
A caminho do Leste.
 Neti disse:
- Se sois realmente Inana, a Rainha dos Céus,
A caminho do Leste,
O que levou vosso coração a tomar a estrada
Da qual caminhante algum retornou?
Inana respondeu:
- Por causa... por causa de minha irmã, Ereshkigal.
Seu marido, Gugalana, o Touro dos Céus, faleceu.
Eu vim para testemunhas os ritos fúnebres
Que a cerveja de seu funeral seja derramada numa taça
Que isto seja feito.
 Neti falou:
- Permanecei aqui, Inana. Eu falarei com minha senhora, dar-lhe-ei vossa mensagem.
Neti, o porteiro-chefe do Mundo Subterrâneo,
Entrou no palácio de Ereshkigal, a Rainha do Mundo Subterrâneo, e disse:
- Minha Senhora, uma donzela,
Tão alta quanto os céus,
Tão ampla quanto a terra,
Tão forte quanto as fundações das muralhas da cidade
Espera fora dos portais do palácio.
 
Ela traz consigo as sete medidas sagradas
Elas as traz em suas mãos.
De posse dos me, ela se preparou.
 
Na cabeça, ela veste a shugurra, a coroa das estepes
Na testa, seus cachos de cabelos escuros estão cuidadosamente penteados
No pescoço ela traz as pequenas contas de lápis lazuli
Sobre seus seios caem as duas correntes de contas
Seu corpo está vestido com as vestimentas reais
Seus olhos estão pintados com maquiagem chamada "Que ele venha, que ele venha!"
Junto ao peito ela traz o corpete chamado "Vem, homem, vem!"
No pulso ela traz a pulseira de ouro
E em sua mão ela traz a linha e o bastão das medidas.
 
Quando Ereshkigal, a Rainha do Mundo Subterrâneo, ouviu tal relato
Ela bateu sua poderosa mão na coxa e mordeu o lábio inferior
Ela considerou cuidadosamente os fatos, e então falou:
- Neti, meu porteiro-chefe do Mundo Subterrâneo,
Preste bem atenção às minhas palavras
Feche os sete portais do Mundo Subterrâneo
Então, um por um, abra um pouco cada portal,
Deixe Inana entrar
Quando ela entrar, remova suas vestes reais
Deixe a alta sacerdotisa dos céus entrar aqui sem qualquer resquíscio de seu poder.
 
Neiti prestou atenção às palavras de sua rainha.
Ele fechou as sete portas do Mundo Subterrâneo,
E então abriu o portal exterior (de cada uma)
Ele disse para a donzela:
- Vinde, Inana, entrai.
 
Quando ela entrou pelo primeiro portal,
Foi removida de sua cabeça a shugurra, a coroa da estepe.
Inana perguntou:
- O que é isto?
Foi-lhe dito:
- Silenciai-vos, Inana, os desígnios do Mundo Subterrâneo são perfeitos.
Eles não podem ser questionados.
Quando ela entrou pelo segundo portal,
Foram removidas de seu pescoço as contas de lápis lazuli.
Inana perguntou:
- O que é isto?
Foi-lhe dito:
- Silenciai-vos, Inana, os desígnios do Mundo Subterrâneo são perfeitos.
Eles não podem ser questionados.
Quando ela entrou pelo terceiro portal,
Foram removidas de seu peito as correntes duplas de contas..
Inana perguntou:
- O que é isto?
Foi-lhe dito:
- Silenciai-vos, Inana, os desígnios do Mundo Subterrâneo são perfeitos.
Eles não podem ser questionados.
Quando ela entrou pelo quarto portal,
Foi retirado de seu peito o corpete chamado "Vem, homem, vem!".
Inana perguntou:
- O que é isto?
Foi-lhe dito:
- Silenciai-vos, Inana, os desígnios do Mundo Subterrâneo são perfeitos.
Eles não podem ser questionados.
Quando ela entrou pelo quinto portal,
Foi retirada de seu pulso a pulseira de outro.
Inana perguntou:
- O que é isto?
Foi-lhe dito:
- Silenciai-vos, Inana, os desígnios do Mundo Subterrâneo são perfeitos.
Eles não podem ser questionados.
Quando ela entrou pelo sexto portal,
Foi-lhe retirado da mão o bastão e a linha das medidas
Inana perguntou:
- O que é isto?
Foi-lhe dito:
- Silenciai-vos, Inana, os desígnios do Mundo Subterrâneo são perfeitos.
Eles não podem ser questionados.
Quando ela entrou pelo sétimo portal,
Foi-lhe retirado do corpo as suas vestimentas reais.
Inana perguntou:
- O que é isto?
Foi-lhe dito:
- Silenciai-vos, Inana, os desígnios do Mundo Subterrâneo são perfeitos.
 
Nua, e rebaixada, Inana entrou na sala do trono.
Ereshkigal ergueu-se de seu trono
Inana caminhou na direção dela
Os Anunaki do Mundo Subterrâneo cercaram-na
Eles passaram uma sentença contra Inana
 
Então Ereshkigal olhou para Inana com os olhos da morte
Ela falou contra Inana uma palavra de ódio
Ela pronunciou contra Inana um clamor de culpa.
 
Ereshkigal bateu em Inana.
 
Inana foi transformada num cadáver,
Num pedaço de carne apodrecida,
E foi dependurada num gancho da parede.
 Quando, após três dias e três noites, Inana não tinha retornado
Ninshubur começou lamento por ela junto às ruínas
Ela bateu o tambor por ela nos locais de assembléia
Ela fez um círculo completo ao redor da casa dos deuses
Ela fez os sinais de luto ao redor dos olhos, da boca, de seus quadris,
Ela vestiu-se com apenas uma peça de roupa, tal qual um mendigo
Sozinha, ela foi a Nippur, ao templo de Enlil.
 
Quando ela entrou no altar sagrado, Ninshubur bradou:
- Oh, Pai Enlil, não deixai vossa filha
Ser posta para morrer no Mundo Subterrâneo.
Não deixai vossa prata de maior brilho
Ser coberta com o pó do Mundo Subterrâneo.
Não deixai vosso precioso lápis lazuli
Ser quebrada como pedra para o pedreiro [trabalhar]
Não deixai vossa perfumada caixa de madeira preciosa
Ser partida como madeira para o madeireiro
Não deixai a sagrada sacerdotisa dos céus
Ser posta para morrer no Mundo Subterrâneo.
 
Pai Enlil respondeu irado:
Minha filha tinha já as Grandes Alturas
Inana agora queria as Grandes Profundezas
Aquela que recebe as Medidas Sagradas do Mundo Subterrâneo não mais retorna
Aquela que vai à Cidade da Escuridão deve lá permanecer.
 
Pai Enlil não ajudaria Inana..
 
Ninshubur foi a Ur, ao templo de Nana.
Quando ela entrou no altar sagrado, ela bradou:
- Oh, Pai Nana, não deixai vossa filha
Ser posta para morrer no Mundo Subterrâneo.
Não deixai vossa prata de maior brilho
Ser coberta com o pó do Mundo Subterrâneo.
Não deixai vosso precioso lápis lazuli
Ser quebrada como pedra para o pedreiro [trabalhar]
Não deixai vossa perfumada caixa de madeira preciosa
Ser partida como madeira para o madeireiro
Não deixai a sagrada sacerdotisa dos céus
Ser posta para morrer no Mundo Subterrâneo.
 
Pai Nana respondeu irado:
Minha filha tinha já as Grandes Alturas
Inana agora queria as Grandes Profundezas
Aquela que recebe as Medidas Sagradas do Mundo Subterrâneo não mais retorna
Aquela que vai à Cidade da Escuridão deve lá permanecer.
 
Pai Nana não ajudaria Inana..
 
Ninshubur foi a Eridu, ao templo de Enki.
Quando ela entrou no altar sagrado, ela bradou:
- Oh, Pai Enki, não deixai vossa filha
Ser posta para morrer no Mundo Subterrâneo.
Não deixai vossa prata de maior brilho
Ser coberta com o pó do Mundo Subterrâneo.
Não deixai vosso precioso lápis lazuli
Ser quebrada como pedra para o pedreiro [trabalhar]
Não deixai vossa perfumada caixa de madeira preciosa
Ser partida como madeira para o madeireiro
Não deixai a sagrada sacerdotisa dos céus
Ser posta para morrer no Mundo Subterrâneo.
 
Pai Enki disse:
- O que aconteceu?
Que fez minha filha?
Inana! A Rainha de Todas as Terras! A Sagrada Sacerdotisa dos Céus!
O que aconteceu?
Estou preocupado, estou cheio de tristeza.
 
Enki tirou um pouco de sujeira de sua unha.
Desta sujeira ele fez um kurgarra, uma criatura que não era nem macho, nem fêmea
Enki tirou um pouco de sujeira de sua outra unha.
Desta sujeira ele fez um galatur, uma criatura que não era nem macho, nem fêmea
Ele deu o alimento da vida ao kurgarra
Ele deu as águas da vida ao galatur
Enki falou ao kurgarra e ao galatur, dizendo:
- Vão ao Mundo Subterrâneo
Entrem pelos portais tal qual moscas
Ereshkigal, a Rainha do Mundo Subterrâneo, está gemendo
Com os gritos de uma mulher que está para dar à luz.
Nenhum lençol de linho cobre o corpo dela
Os seios de Ereshkigal estão descobertos
O cabelo de Ereshkigal parece-se com alho-poró
Quando ela gritar "Ah, como me dói tudo por dentro!"
Gritem também "Ah, como vos dói tudo por dentro!"
Quando ela gritar "Ah, como me dói tudo por fora!"
Gritem também "Ah, como vos dói tudo por fora!"
A Rainha vai ficar agradecida
E oferecer a vocês um presente
Peçam a ela apenas pelo cadáver de Inana que está dependurado num gancho da parede
Um de vocês irá dar a este cadáver o alimento da vida
O outro irá dar-lhe as águas da vida
Inana então irá se levantar.
 
O kurgarra e o galatur seguiram à risca as palavras de Enki.
Eles partiram para o Mundo Subterrâneo
Como moscas, eles deslizaram através das aberturas dos grandes portais
Eles entraram na sala do trono de Ereshkigal, a Rainha do Mundo Subterrâneo.
Nenhum lençol de linho cobria o corpo dela
Os seios de Ereshkigal estavam descobertos
O cabelo de Ereshkigal parecia-se com alho-poró
 
Ereshkigal estava gemendo:
- Ah! Ah! Por dentro tudo me dói!
 Eles gemeram:
- Ah! Ah! Por dentro tudo vos dói!
 Ela gemia:
- Ahhh, por fora tudo me dói!
 Eles gemeram:
- Ahhh, por fora tudo vos dói!
 Ela deixou escapar um lamento:
- Minha barriga!
 Eles deixaram escapar outro lamento:
- Ah, vossa barriga!
 Ela gemeu:
- Ah! Ah! Minhas costas!
 Eles gemeram:
- Ah! Ah! Vossas costas!
 Ela suspirou:
- Ah! Ah! Meu coração!
 Eles suspiraram:
- Ah! Ah! Vosso coração!
Ela suspirou:
- Ah! Ah! Meu fígado!
 Eles suspiraram:
- Ah! Ah! Vosso fígado!
 Ereshkigal parou
Ela olhou para eles
Ela perguntou:
- Quem são vocês...
Gemendo, murmurando, suspirando comigo?
Se vocês são deuses, eu os abençôo
Se vocês são mortais, eu dar-lhes-ei um presente.
Para vocês, irei dar o Dom das águas, o rio mais cheio.
 O kurgarra e o galatur responderam:
- Não queremos este presente.
 Ereshkigal disse:
- Dar-lhes-ei o Dom dos grãos, dos campos na colheita.
 O kurgarra e o galatur responderam:
- Não queremos este presente.
 Ereshkigal disse:
- Falem então! O que desejam?
Eles responderam:
- Desejamos apenas o cadáver pendurado no gancho da parede.
Ereshkigal disse:
- O cadáver pertence a Inana.
 Eles disseram:
- Se o cadáver pertence à nossa rainha
Se o cadáver pertence ao nosso rei,
É o que realmente queremos.
 
O cadáver foi dado a eles.
 
O kurgarra deu ao cadáver o alimento da vida,
O galatur deu ao cadáver as águas da vida.
Inana se levantou....
 
Inana estava prestes a ascender do Mundo Subterrâneo
Quando os Anunaki, os juízes do Mundo Subterrâneo, prenderam-na.
Eles disseram:
- Ninguém ascende do Mundo Subterrâneo sem uma marca
Se Inana deseja retornar do Mundo Subterrâneo,
Ela deve providenciar alguém em seu lugar.
 
À medida em que Inana ascendia do Mundo Subterrâneo,
Os galla, os demônios do Mundo Subterrâneo, não desgrudaram de seu lado
Os galla eram demônios que não conhecem alimentos ou bebidas
Que não comem oferendas quer em forma de alimentos ou líquidos
Que não aceitam presentes
Que não gostam de fazer amor
Que não têm crianças para beijar
Eles tiram a esposa dos braços do marido
Eles tiram o filho ou filha dos joelhos do pai
Eles roubam a noiva do seu futuro lar.
 
Os demônios não desgrudaram de Inana
Os gallas pequenos que acompanhavam Inana
Eram como juncos de pequenos cercados
Os gallas grandes que acompanhavam Inana
Eram como juncos de grandes cercados
 
Aquele que caminhava à frente de Inana não era um ministro,
Mas carregava um cetro
Aquele que caminhava atrás de Inana não era um guerreiro,
Mas carregava uma clava
 
Ninshubur, vestida em saco da aniagem sujo
Esperava fora dos portais do palácio
Quando ela viu Inana rodeada pelos galla
Ela atirou-se no chão, na poeira, aos pés de Inana.
 
Os galla disseram:
- Sigai em frente, Inana.
Levaremos Ninshubur em vosso lugar.
 
Inana gritou:
- Não! Ninshubur é meu constante apoio
Ela é minha primeira-ministra, minha sukkal, que me dá sábios conselhos
Ela é a minha guerreira que luta ao meu lado
Ela não esqueceu minhas palavras.
 
Ela começou lamento por mim junto às ruínas
Ela bateu o tambor por mim nos locais de assembléia
Ela fez um círculo completo ao redor da casa dos deuses
Ela fez os sinais de luto ao redor dos olhos, da boca, de seus quadris,
Ela vestiu-se com apenas uma peça de roupa, tal qual um mendigo
Sozinha, ela foi a Nippur, ao templo de Enlil.
Sozinha, ela foi a Ur, ao templo de Nana
Sozinha, ela foi a Eridu, ao templo de Enki.
Por causa dela, minha vida foi salva
Jamais darei Ninshubur a vocês.
 
Em Umma, no templo sagrado,
Shara, o filho de Inana, estava vestido com vestes sujas de saco de aniagem
Quando ele viu Inana rodeada pelos galla
Ele atirou-se no chão, na poeira, aos pés de Inana.
 
Os galla disseram:
- Sigai em frente, Inana.
Levaremos Shara em vosso lugar.
 
Inana gritou:
- Não! Não Shara!
Ele é o filho que canta hinos para mim
Ele é o filho que corta as minhas unhas e penteia meus cabelos
Jamais darei Shara a vocês!
 
Em Babtibira, no templo sagrado,
Lulal, o filho de Inana, estava vestido com vestes sujas de saco de aniagem
Quando ele viu Inana rodeada pelos galla
 
Os galla disseram:
- Sigai em frente, Inana, rumo à vossa cidade
Levaremos Lulal em vosso lugar.
 
Inana gritou:
- Não, não Lulal! Ele é meu filho
Ele é um líder entre os homens
Ele é meu braço direito, ele é meu braço esquerdo
Jamais darei Lulal a vocês!
Os galla disseram:
- Sigai em frente, Inana, rumo à vossa cidade
Iremos agora até a grande macieira de Uruk.
 
Em Uruk, junto à grande macieira,
Dumuzi, o esposo de Inana, estava vestido com suas cintilantes vestimentas das medidas sagradas
Ele estava sentado em seu magnífico trono (e de lá não se moveu)
 
Os galla pegaram-no pelos quadris
Os galla derramaram leite em Dumuzi proveniente de sete baldes
Eles quebraram a flauta de junco que o pastor estava tocando
 
Inana lançou a Dumuzi o olhar da morte
Ela falou contra ele uma palavra de ódio
Ela proferiu contra ele um clamor de culpa:
- Levem-no! Levem Dumuzi embora!
 
 Dumuzi deixou escapar um gemido
Ele levantou suas mãos para o céu, para Utu, o deus da Justiça, e suplicou a ele:
- Oh, Utu, tu és meu cunhado
Eu sou o esposo de tua irmã
Eu trouxe creme à casa de tua mãe
Eu trouxe leite para a casa de Ningal
Eu sou aquele que levou alimentos até o altar sagrado
Eu sou aquele que trouxe presentes de casamento a Uruk
Eu sou aquele que dançou nos joelhos sagrados, os joelhos de Inana.
Utu, tu que és um deus justo, um deus misericordioso
Transforma as minhas mãos nas mãos de uma serpente
Transforma meus pés nos pés de uma serpente
Deixe-me escapar de meus demônios
Não deixe eles me pegarem!
 
O misericordioso Utu aceitou as lágrimas de Dumuzi
Ele transformou as mãos nas mãos de uma serpente
Ele transformou os pés nos pés de uma serpente
Dumuzi escapou de seus demônios
Que não puderam prender Dumuzi.

Um comentário:

  1. Parabéns pela transcrisão do mito em sua íntegra.
    Forte abraço.

    ResponderExcluir